sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O "sim" que prejudica

Desculpa, mas não tem como ser Au Pair e não falar de crianças. Passo o meu dia observando elas, vendo como reagem a certos acontecimentos e já sei prever as reações delas. Os meninos aqui em casa podem ser chamados de "bem de vida", aquele tipo de criança que tem tudo o que quer, já que os pais têm dinheiro mas não têm força para dizer "não", e observando, não só os meninos, como os pais, eu aprendi que quanto mais coisas uma criança tem, mais ela quer, mas menos ela sente prazer em receber o desejado. 
Ontem eu conversei com a Allison (mãe do melhor amigo de um dos meninos, ela é aquele tipo de pessoa politicamente correta que luta por igualdade e ajuda crianças pobres de outros países, inclusive do Brasil) por horas, ok, só uns minutos quando fui deixar o Aiden (o menino mais velho aqui de casa) na casa dela. Ficamos conversando sobre consumismo, separação de lixo, que aqui funciona bem diferente do Brasil e eles jogam muitas coisas receicláveis fora e sobre poluição. Tudo isso começou comigo comentando sobre o meu blog e que estou me sentindo muito consumista nesse país onde tudo é tão barato e de fácil acesso. Fiquei horas pensando no assunto mais tarde. Hoje cedo, olhei pro Trey (o mais novinho) e pensei, eu acho que ele seria mais feliz se tivesse menos coisas. As crianças que tem tudo o que querem não são felizes, foi a conclusão que tive. 
Lembro que quando eu era criança, era difícil conseguir um "sim" da minha mãe no supermercado, mas quando ela dizia sim praquele Danoninho tão querido, eu dava pulos. Crianças ricas não têm essas alegrias, pra elas isso é normal, é só uma coisa a mais, e no final junta tanta coisa que todas perdem a graça e vão fora sem serem aproveitadas. Estou cansada de por pequenas coisas no lixo, snacks que passaram da validade há anos ou mesmo pedaço de bolo que pedem, ganham e não comem nem um terço. Dá um pedaço de bolo inesperado para uma criança que está mais do que acostumada a receber uma resposta negativa dos pais pra ver o sorrisão no rosto dela. 
Já ouvi pais comentarem que dão tudo o que não tiveram para os filhos. Será que eles se dão conta de que podem dar o que não tiveram, mas com limite, para essas crianças? Isso não faz as crianças felizes, faz elas ficarem cansadas daquilo tudo, é isso que eu observo. Pra que quatro bolas de futebol se só se usa uma? Pra que 46 jogos de video-game se só se joga 5 ou 6 deles? Pra que 200 carrinhos se só se brinca com dois ou três destes? Acho demais, acho exagero e nada saudável. Meu senso critico só cresce nesse país, tenho vontade de interferir, mas não posso, e sei que se o fizer, de nada adianta. Por isso eu sou fã da Allison, que vê as coisas pelo menos modo que eu, ontem cheguei a perguntar o que ela faz nesse país, sabe o que ela respondeu? Que quer se mudar pra algum lugar na América Latina, onde terá mais chance de ajudar o mundo, pois aqui, já está tudo perdido na mão de pessoas com muito dinheiro e pouca vontade. Evito falar de política ou economia aqui no blog, sendo que este não é o objetivo inicial do mesmo, mas estando aqui, não tem como não olhar ao redor e ver tanta coisa fora do lugar. Triste, só fico com pena das crianças.

6 comentários:

Ana disse...

Paulitcha.
Vc parece que lê meus pensaments, só pode. Primeio foi o post de fim de ano, falando sobre planos, bla blá blá. (que eu ia falar no meu blog, mas enfim, depois que li teu post fiquei sem criatividade kkk).
E agora vc fala sobre a vida das crianças.
E olha, mesmo que eu não esteja aí, eu conheço crianças aqui no Brasil mesmo, e vê -se em filmes também que infelizmente não é dado o devido valor.
Acaba sendo simples e fácil para essas crinças, pedirem e ganharem. Assim quando crescerem, vão achar o mundo é responsável lhes dar da mesma forma.
Dá uma vontade de pegar pelo colarinho dos pais né! Aaaaaaaaaargh.

Beijinhos minha querida.
TE cuida.
Bom fds.

Ana

::..belle..:: disse...

you're SO RIGHT!
Nossa, já vi muitas meninas reclamando desse comportamento mimado das kids, mas acho que você foi a primeira que eu li que fez toda uma análise maior e mais completa da situação. É exatamente isso mesmo, inclusive a história do 'danoninho' que era o mais gostoso do mundo porque NAQUELE dia a mãe da gente disse que sim.

Lembro de ser pequena e minha mãe levar minha irmã e eu ao shopping, mas como ela não tinha emprego e dependia apenas do meu pai, ela nos fazia escolher: ou um super lanche no McDonalds [ou lanchonete bacana por lá] ou dois tickets pra brincar nos brinquedos do shopping. No começo era difícil, mas a partir daí foi que eu criei uma consciênciazinha sobre ter que escolher e não poder ter tudo. Poucas vezes elas nos deixou lanchar e brincar, mas quando acontecia *.*

Hoje ela até reclama do quanto eu calculo e economizo, mas é tão bom saber que você pode fazer aquela reserva e gastar com algo que realmente importa! :D

Ao mesmo tempo, deve ser difícil ver uma realidade tão complicada e que vai se transformar numa big bola de neve transformando as kids em pessoas insatisfeitas e incompletas [tá, estou sendo trágica, mas pode facilmente acontecer]. Enfim, espero que algo aconteça no meio do caminho e eles tenham noção do valor das coisas e não apenas do preço que elas têm.

beijos e até mais!

Paula disse...

oi meninas! as duas super corretas tbm. Ana, vc disse uma coisa que eu gostei muito, vc disse " Assim quando crescerem, vão achar o mundo é responsável lhes dar da mesma forma."
é exatamente isso!!
E tanto q eu nao faço mais nada pelo meu menino mais velho por ele achar q eu devo fazer tudo pra ele. pra ver se ele aprende comigo o q nao aprende com os pais...
obrigada pelos coments meninas, voces duas estao sempre por aqui!! lol

Anônimo disse...

postagem muito boa Pauluska!
bjs
elisa

Natasha Gomes disse...

Não acontece só nos Estados Unidos, mas aqui também no Brasil. Infelizmente, esse é o resultado das crianças felizes na infancia, mas sem ter nada. Porque quando elas crescem, elas querem dar de tudo para os filhos e não sabem dosar. É triste, porque se soubessem, metada das crianças que passam fome hoje em dia, teriam o que comer. A falta de igualdade está beeem longe de acabar.

Natasha disse...

É, não é fácil mesmmo...eu sei que parece longe e um pouco exagerado, mas pensando nos filhos que quero ter resolvi acabar com o meu consumismo...tá, não foi só por esse motivo, mas justamente porque não quero correr o risco de contaminá-los com esse mundo de tudo se quer, tudo se tem!

Gosto dos teus pensamentos...são muito evoluídos, mesmo! Good luck!