Desculpa, mas não tem como ser Au Pair e não falar de crianças. Passo o meu dia observando elas, vendo como reagem a certos acontecimentos e já sei prever as reações delas. Os meninos aqui em casa podem ser chamados de "bem de vida", aquele tipo de criança que tem tudo o que quer, já que os pais têm dinheiro mas não têm força para dizer "não", e observando, não só os meninos, como os pais, eu aprendi que quanto mais coisas uma criança tem, mais ela quer, mas menos ela sente prazer em receber o desejado.
Ontem eu conversei com a Allison (mãe do melhor amigo de um dos meninos, ela é aquele tipo de pessoa politicamente correta que luta por igualdade e ajuda crianças pobres de outros países, inclusive do Brasil) por horas, ok, só uns minutos quando fui deixar o Aiden (o menino mais velho aqui de casa) na casa dela. Ficamos conversando sobre consumismo, separação de lixo, que aqui funciona bem diferente do Brasil e eles jogam muitas coisas receicláveis fora e sobre poluição. Tudo isso começou comigo comentando sobre o meu blog e que estou me sentindo muito consumista nesse país onde tudo é tão barato e de fácil acesso. Fiquei horas pensando no assunto mais tarde. Hoje cedo, olhei pro Trey (o mais novinho) e pensei, eu acho que ele seria mais feliz se tivesse menos coisas. As crianças que tem tudo o que querem não são felizes, foi a conclusão que tive.
Lembro que quando eu era criança, era difícil conseguir um "sim" da minha mãe no supermercado, mas quando ela dizia sim praquele Danoninho tão querido, eu dava pulos. Crianças ricas não têm essas alegrias, pra elas isso é normal, é só uma coisa a mais, e no final junta tanta coisa que todas perdem a graça e vão fora sem serem aproveitadas. Estou cansada de por pequenas coisas no lixo, snacks que passaram da validade há anos ou mesmo pedaço de bolo que pedem, ganham e não comem nem um terço. Dá um pedaço de bolo inesperado para uma criança que está mais do que acostumada a receber uma resposta negativa dos pais pra ver o sorrisão no rosto dela.
Já ouvi pais comentarem que dão tudo o que não tiveram para os filhos. Será que eles se dão conta de que podem dar o que não tiveram, mas com limite, para essas crianças? Isso não faz as crianças felizes, faz elas ficarem cansadas daquilo tudo, é isso que eu observo. Pra que quatro bolas de futebol se só se usa uma? Pra que 46 jogos de video-game se só se joga 5 ou 6 deles? Pra que 200 carrinhos se só se brinca com dois ou três destes? Acho demais, acho exagero e nada saudável. Meu senso critico só cresce nesse país, tenho vontade de interferir, mas não posso, e sei que se o fizer, de nada adianta. Por isso eu sou fã da Allison, que vê as coisas pelo menos modo que eu, ontem cheguei a perguntar o que ela faz nesse país, sabe o que ela respondeu? Que quer se mudar pra algum lugar na América Latina, onde terá mais chance de ajudar o mundo, pois aqui, já está tudo perdido na mão de pessoas com muito dinheiro e pouca vontade. Evito falar de política ou economia aqui no blog, sendo que este não é o objetivo inicial do mesmo, mas estando aqui, não tem como não olhar ao redor e ver tanta coisa fora do lugar. Triste, só fico com pena das crianças.